sábado, 1 de julho de 2023

 

              Brado da fênix

 

No princípio, fogo e paixão

Alfa e ômega em perfeita sintonia

Construindo um castelo de ilusão

Nas brumas da falsa harmonia.

 

Sob a máscara da gentileza

Um lorde a cortejá-la com fervor

Mimos e reverência a sua beleza

Na trilha sonora, serenatas de amor.

 

Elogios são gotas de orvalho

Regando o ego da flor enamorada

O prelúdio romântico é um atalho

Que a ilude e a deixa inebriada.

 

Ciúmes alimentam a vaidade

Concebidos como prova de amor

Ocultam a macabra verdade

O enredo de um filme de terror.

 

A face cruel da violência

Aos poucos vai sendo revelada

Agressões substituem a reverência

De súbito, a flor é despertada.

 

Grito preso na garganta

Por medo ou por amor silencia

Submissa, seu flagelo se agiganta

O machismo perpetua sua agonia.

 

 

O amor torna-se cúmplice

O medo seu grande algoz

Orbita, num mutismo súplice,

Nas teias de um destino feroz.

 

Crendo que a dor seja passageira

Perde aos poucos o vigor e a vaidade

Da alienação vira uma prisioneira

Sacrifica seu eu e sua sanidade.

 

Submersa num mundo opressor

Oculta marcas no corpo e na alma

Subjugada pelo seu agressor

No martírio, a fé lhe acalma.

 

No caminho pavimentado por prantos

Gerados pela violência física e moral

Descobrir que se basta é um acalanto

É desabrochar para uma vida normal.

 

Tendo acesso ao conhecimento

Extrai força de suas entranhas

Para pôr fim ao sofrimento

E do tirano superar as artimanhas.

 

Quebra o silêncio, rompe as amarras

Um brado ressonante da alma a ecoar

Sai do jugo, solta-se  das garras

Rumo à liberdade, uma fênix a voar.

 

                              Asor Almeida

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