SARAU LITERÁRIO DO REINO LETRADO
No Reino Letrado, a Textualidade, uma
sábia e coerente rainha, governa os gêneros textuais. Quando há algum conflito
entre os súditos, Sua Majestade age prontamente no sentido de pacificá-los,
acionando a Coesão, integrante da Guarda Real, que acalma os ânimos e mantém a
harmonia entre frases, períodos e parágrafos.
Na
difícil missão de governar um povo tão letrado, a soberana conta com o auxílio
do Conselho dos Gêneros formado por textos instrucionais e prescritivos como a
Bula e o Rótulo, cujo objetivo é ensinar ou orientar. Esse conselho é
responsável pela organização do banquete, coordenado pela Receita, e pelas
regras de etiqueta do palácio, formuladas pelo Manual, pelo Guia e pelo
Folheto.
Anualmente a rainha promove o Sarau
Literário do Reino Letrado visando prestigiar os moradores que se manifestam em
verso e em prosa. Todos aguardam ansiosos por esse badaladíssimo evento e
capricham nos figurinos, os suportes textuais. Alguns investem em cursos de
caligrafia, outros em oratória e há até quem se aventure nas artes, tudo para
impressionar a realeza.
Essa festa literária é uma
oportunidade ímpar para os gêneros textuais que gostam de chamar a atenção e
despertar o interesse dos interlocutores. É o caso do Anúncio, do Cartaz e da
Propaganda que capricham nos looks,
pois adoram se exibir usando slogans e imagens bem chamativos.
O
comitê responsável pela convocação dos gêneros é comandado pelo
primeiro-ministro, o Convite, que acompanhado da Carta, do Bilhete e do E-mail
sai pelo reino transmitindo a mensagem palaciana.
O sarau tem início com a entrada
triunfal da vaidosa rainha, anunciada pela Biografia, uma amiga íntima que sabe
tudo sobre sua vida, inclusive que desde a infância Sua Majestade tem a mania
de registrar suas memórias num Diário. Nem preciso dizer que ela sempre arrasa
nos figurinos e atrai todos os holofotes ao caminhar altiva pelo tapete
vermelho.
Durante o evento há momentos de pura
emoção, provocados pelo Poema que se esmera no recital, e de humor, causados
pelas bobas da corte: a Anedota, a Tirinha e a Piada, que adoram divertir os
leitores e ouvintes.
A magia e o encantamento ficam por
conta das Lendas, dos Mitos, dos Contos, das Novelas e dos Romances, narrativas
que transportam os interlocutores ao mundo da fantasia e da imaginação, mas as
Fábulas vão além e dão sempre um puxãozinho de orelha, transmitindo um
ensinamento moral.
Os bate-papos rolam soltos com uso da
variedade linguística despertando a curiosidade da Entrevista que não perde a
chance de colher opiniões dos convidados sobre os babados do momento. Lógico
que o Artigo de Opinião também não se faz de rogado e desenvolve uma tese sobre
o tema.
A Crônica, um gênero muito versátil,
que milita entre a realidade e a ficção, cola na Notícia e na Reportagem,
gêneros que têm como finalidade informar os leitores. É que a Crônica precisa
estar sempre bem informada, já que se inspira nos fatos do cotidiano para
esbanjar charme nos jornais e revistas.
A Charge, sempre crítica e exagerada,
fica um tanto isolada com sua inseparável lupa. Ela não é muito sociável porque
vive satirizando os acontecimentos ou os personagens de destaque, sendo, por
isso, temida principalmente por personalidades políticas.
O ponto alto é o baile de gala, que
tem transmissão ao vivo nas redes sociais para a diversidade de gêneros ausente
no evento. Por fim, a rainha Textualidade faz o Discurso de encerramento,
recomendando que todos continuem cumprindo sua função social de advertir,
convencer, criticar, divertir, ensinar, informar, instruir, narrar, opinar,
orientar, solicitar...
Asor Almeida