Brado da fênix 
 
No
princípio, fogo e paixão
Alfa
e ômega em perfeita sintonia
Construindo
um castelo de ilusão
Nas
brumas da falsa harmonia.
 
Sob
a máscara da gentileza
Um
lorde a cortejá-la com fervor 
Mimos
e reverência a sua beleza
Na
trilha sonora,
serenatas de amor.
 
Elogios
são gotas de orvalho
Regando
o ego da flor enamorada
O
prelúdio romântico é um atalho
Que
a ilude e a deixa inebriada.
 
Ciúmes
alimentam a vaidade
Concebidos
como prova de amor
Ocultam
a macabra verdade
O
enredo de um filme de terror.
 
A
face cruel da violência
Aos
poucos vai sendo revelada
Agressões
substituem a reverência
De
súbito, a flor é despertada.
 
Grito
preso na garganta
Por
medo ou por amor silencia
Submissa,
seu flagelo se agiganta
O
machismo perpetua sua agonia.
 
 
O
amor torna-se cúmplice
O
medo seu grande algoz
Orbita,
num mutismo súplice,
Nas
teias de um destino feroz.
 
Crendo
que a dor seja passageira
Perde
aos poucos o vigor e a vaidade 
Da
alienação vira uma prisioneira
Sacrifica
seu eu e sua sanidade.
 
Submersa
num mundo opressor
Oculta
marcas no corpo e na alma
Subjugada
pelo seu agressor 
No
martírio, a fé lhe acalma.
 
No
caminho pavimentado por prantos
Gerados
pela violência física e moral
Descobrir
que se basta é um acalanto
É
desabrochar para uma vida normal.
 
Tendo
acesso ao conhecimento
Extrai
força de suas entranhas
Para
pôr fim ao sofrimento
E
do tirano superar as artimanhas.
 
Quebra
o silêncio, rompe as amarras
Um
brado ressonante da alma a ecoar
Sai
do jugo, solta-se  das garras
Rumo
à liberdade, uma fênix a voar.
 
                              Asor Almeida