sexta-feira, 18 de maio de 2018

PRÉ-MODERNISMO



PRÉ-MODERNISMO

“Creio que se pode chamar pré-modernismo (no sentido forte de premonição dos temas vivos em 22) tudo o que, nas primeiras décadas do século, problematiza a nossa realidade social e cultural. (...) Caberia ao romance de Lima Barreto e de Graça Aranha, ao largo ensaísmo social de Euclides da Cunha e à vivência brasileira de Monteiro Lobato o papel histórico de mover as águas estagnadas da belle époque, revelando, antes dos modernistas, as tensões que sofria a vida nacional”.                                 
                                                                          (BOSI, Alfredo. "História concisa da literatura brasileira". São Paulo: Cultrix, 1994. p. 306.)

 Começa a independência artística do Brasil!


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      Imagens disponíveis em:  https://www.google.com/search=semana+de+arte+moderna.

SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922

            Período: Realizada em fevereiro de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo
Participantes:  Escritores, artistas plásticos, arquitetos e músicos.

Principal objetivo: Apresentar uma estética inovadora/independência cultural, pautada nas vanguardas artísticas europeias.
O evento: Comemoração do centenário da Independência do Brasil. 
 Dança, música, exposições e recital de poesias.
União entre diferentes manifestações artísticas: pintores, escultores, músicos, escritores.            
Discussões em torno de uma nova arte.
Repercussão : chocou o tradicionalismo vigente.


   

     CARACTERÍSTICAS DO PRÉ-MODERNISMO

• Não se constituiu uma escola literária, estruturada e organizada em um programa estético definido.
. Foi um fato artístico, um momento importante do desenvolvimento das letras brasileiras, pois antecipou temática e formalmente as manifestações modernistas;
Trata-se de um período de transição, em que os escritores, apesar de ainda guardarem traços das estéticas realista, naturalista ou parnasiana, expressaram um viés crítico, explorado posteriormente pelos modernistas;
• Marca a transição entre a tradição literária (século XIX) e sua ruptura radical (Semana de Arte Moderna), (século XX), considerada o marco inicial do Modernismo brasileiro e o fim do período denominado Pré-Modernismo;
A busca de uma linguagem mais simples e coloquial;
• As obras literárias defendiam uma arte mais engajada e voltada para os problemas sociais;
Temas abordados: fatos históricos, políticos, econômicos e sociais;
. Tipos humanos marginalizados: o sertanejo nordestino, o caipira, o mulato e os funcionários;

AUTORES PRÉ-MODERNISTAS

Euclides da Cunha retoma a vertente regionalista da literatura brasileira de modo crítico, polêmico, problematizador. Na obra Os sertões, Euclides da Cunha aborda o encontro de dois mundos, o litoral civilizado e o sertão inculto - a Guerra de Canudos (Bahia 1896-1897).
Lima Barreto: (Triste Fim de Policarpo quaresma) - Obra pré-modernista que reflete forte sentimento nacional e grande consciência crÍtica de problemas brasileiros. 
O protagonista propõe a construção de uma pátria a partir de elementos míticos, como a cordialidade do povo, a riqueza do solo e a pureza linguística, mas sofre uma frustração ideológica.
Monteiro Lobato: nacionalismo, literatura infantil, contos regionalistas, criação do personagem Jeca Tatu (estereótipo do caboclo abandonado pelas autoridades governamentais) e ensaios e artigos que apresentam sérias preocupações econômicas e históricas;
Augusto dos Anjos (livro EU) – aspectos temáticos: a angústia, o medo, a solidão, o determinismo biológico, a sonoridade das palavras, a perfeição do verso e a aproximação com a morte, vocabulário incomum, multiplicidade de influências literárias e visão de cosmo.

CONTEXTO HISTÓRICO


Os acontecimentos que influenciaram as obras literárias pré-modernistas, tornando-as mais engajadas e voltadas para os problemas sociais: Primeira Guerra Mundial, enfraquecimento da República Velha - “política do café com leite”, a Guerra de Canudos.


OBRAS PRÉ-MODERNISTAS


Os Sertões - Euclides da Cunha

                                                     O sertanejo é, antes de tudo, um forte”


                                                
“Os Sertões” é uma das obras mais emblemáticas do escritor pré-modernista Euclides da Cunha (1866-1909), publicada em 1902. A obra narra os acontecimentos da Guerra de Canudos, liderada por Antônio Conselheiro (1830-1897), ocorrida no interior da Bahia no período compreendido entre 1896 e 1897. Essa obra representa um marco da literatura e na história do Brasil.
É um relato histórico e literário, uma vez que a campanha militar descrita na obra “Os Sertões” contou com a participação do escritor e jornalista Euclides da Cunha, convidado pelo Jornal Estado de São Paulo para cobrir a guerra no Arraial de Canudos. Sua obra reúne história, literatura e jornalismo.
Trata-se de uma prosa científica, artística e de caráter crítico, sendo que desmistifica a visão idealista do índio herói e do negro trabalhador, abordado com entusiasmo pelos escritores do romantismo.
Os Sertões” é considerada como a primeira grande interpretação da realidade brasileira que, buscando compreender o meio áspero em que vivia o jagunço do sertão nordestino, denunciava uma campanha militar que investia contra o fanatismo religioso advindo da miséria e do abandono do homem do sertão.
A obra “Os Sertões” foi desenvolvida em três partes: A Terra, O Homem e A Luta.
         1ª PARTE -  A Terra: Descrição detalhada do cenário em que se desenrolou a ação - o sertão nordestino. O autor destaca as características do lugar, o clima, o solo, o relevo, a fauna, a flora, a seca que assola a região.


       2ª PARTE - O Homem: Descrição do sertanejo, da sua relação com o meio, sua gênese etnológica, sua resistência, suas crenças e costumes, bem como as condições de vida e resistência.  Há ainda o foco na figura de Antônio Conselheiro,  líder de Canudos.
O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral. A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas. É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. […] esta aparência de cansaço ilude. Nada é mais surpreendedor do que vê-la desaparecer de improviso. Naquela organização combalida operam-se, em segundos, transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormecidas. O homem transfigura-se.” 
     3ª PARTE - A Luta: Relato sobre as quatro expedições a Canudos, criando o retrato real só possível pela testemunha ocular da fome, da peste, da miséria, da violência e da insanidade da guerra.
O livro retrata o absurdo de um massacre que começou por um motivo tolo, pois havia a suspeita de que os “monarquistas” de Canudos, liderados por seu “famigerado e bárbaro” líder tinham apoio externo. Canudos causou a ira dos governantes do Brasil por que Conselheiro pregava contra a República e instigava os jagunços contra o governo. Assim, ocorreram o que Euclides chamou de "...loucuras e crimes das nacionalidades" referindo-se aos os crimes cometidos pela República contra os sertanejos. “No final, foi apenas um massacre violento onde estavam todos errados e o lado mais fraco resistiu até o fim com seus derradeiros defensores – um velho, dois adultos e uma criança”. De acordo com o autor, quem teve uma resistência feroz foram os defensores:  do Arraial.



Triste Fim de Policarpo Quaresma  - Lima Barreto

“O que ele tem de mais característico, no entanto, é a sua filosofia de vida .[..] Desde moço, aí pelos vinte anos, o amor da pátria tomou-o todo inteiro".  



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História de um nacionalista fanático que, quixotescamente, tenta resolver sozinho, os males sociais de seu tempo, Triste Fim de Policarpo Quaresma, obra mais famosa de Lima Barreto (1881-1922), condensa em si muitas das características que consagraram seu autor como o melhor de seu tempo, situado no Pré-Modernismo.
Publicada inicialmente em folhetins do Jornal do Comércio entre agosto e outubro de 1911 e depois em livro em 1916, essa obra é um dos maiores clássicos da literatura brasileira do período. A história tem início em fins do século XIX e ambientada na cidade do Rio de Janeiro. O personagem principal, Policarpo Quaresma, motiva seu engajamento em três diferentes projetos voltados para os setores cultural, agrícola e político, que objetivam “reformar” o país.  
Nacionalista ingênuo e fanático que lidera um grupo de oposição no início da República, Quaresma era um funcionário público que pretendia valorizar a cultura do país, brigou por ela a vida toda e foi condenado à morte injustamente por valores que defendia.
 Não tendo podido ser militar, tornou-se um burocrata, chegando ao cargo de subsecretário do Arsenal de Guerra, por isso era conhecido como Major Quaresma. Uma de suas ações nesse cargo foi propor ao Ministro que declarasse o Tupi - Guarani como a língua oficial do Brasil.
Após esse evento, Quaresma é considerado louco e permanece um tempo internado. Durante esse período recebe a visita de Olga, seu compadre e o professor de violão, Ricardo Coração dos Outros, os únicos que acreditam em suas ideias.
Após sair do hospital psiquiátrico, ele se afasta da sociedade e passa a viver no “Sítio do Sossego”, localizado na cidade interiorana de Curuzu. Lá se dedica ao cultivo da agricultura e, com o tempo, começa a se aproximar de algumas pessoas.
Durante a Revolta da Armada ele vai ao Rio de Janeiro, com o intuito de apoiar o governo do Marechal Floriano que estava sendo enfrentado pela Marinha do país, mas acaba preso e acusado de traição pelo Marechal. Desiludido com a falta de patriotismo do povo, Quaresma encontra na figura do presidente um totalitário e cruel ditador que o condena ao fuzilamento.